Um antegosto de Bruxelas

Dia 16: Bye, Bye, Brussels... I'll Be Back...

Dias 14 e 15: Depois de um dia solitário, ontem, a passear por Bruxelas, a ver montras natalícias, a observar os habitantes da cidade, a comer batatas fritas e gauffres, a ir ao cinema ver um filme bom, mas pesado para se ver sozinha (4 months, 3 weeks and 2 days), hoje estive muito bem acompanhada! Fui a Lille, cidade do Norte de França, mas ligada rapidamente a Bruxelas pelo TGV, ver outro amigo do Erasmus, o Emmanuel, que já não via há mais de dois anos! Um dia inteiro e intenso a falar das boas memórias, dos momentos inesquecíveis vividos juntos, do presente, dos projectos, dos ideais que, apercebo-me, são iguais para todos os jovens da minha idade neste momento: ter um emprego estimulante e à altura das nossas capacidades, uma casa bonita mesmo que alugada e partilhada com outros, uma qualidade de vida razoável independentemente do que isso seja, uma vida a dois com aquela pessoa especial. Há amigos assim, que sabemos que, apesar do tempo, da distância, das culturas e dos desencontros, estarão sempre um dia ou outro no nosso caminho mais uma vez...

Dias 12 e 13: Acabou o estágio! Ufa! Estou cansada, não porque tenha trabalhado muito, mas pelas constantes entrevistas e reuniões que fui tendo ao longo destas duas semanas... Que vida mais dura! Ontem, em trabalho (para a minha tese, não para o estágio!) fui a Leuven e redescobri os encantos da Bélgica e da Flandres. Bicicletas aos zigue-zagues, flores coloridas, casas bonitas, praças arranjadinhas, gente fashion. Enfim, o melhor é não falar nos encantos próprios de cada região desta terra porque o país continua desgovernado e a Universidade de Leuven, fundada em 1425 e uma das mais antigas da Europa, cindiu-se antes do próprio país, em 1970, dando origem às Universidades católicas de Leuven e Louvain... Quanto a Bruxelas, no meio disto tudo, não se sabe o que dela advirá. Mas eu sei o que quero fazer: voltar para cá!

Dia 11: Saí há pouco de um encontro com uma funcionário portuguesa muito querida. Assim já velhota, mas com espírito super jovem, que me motivou muito na minha "busca". Obviamente que ela me disse para não voltar para Portugal, pois veria todas as portas fecharem-se... Chego a casa e falo com o amigo Francisco via MSN e eis o seu discurso:

Tenho de sair desta pasmaceira de meio intelectual. Ou é demasiadamente alternativo, ou é demasiadamente elitista. Ou tentas entrar na elite, ou crias uma alternativa que não dá dinheiro, mas que anima a populaça.

Neste meu périplo institucional tenho-me apercebido de que alguns dos funcionários europeus portugueses estão tão desligados da realidade do nosso país e da realidade em geral, que não compreendem porque passei um concurso para trabalhar nas instituições inferior à minha competência académica. Segundo eles, deveria ter tentado entrar logo para o topo. As coisas mudaram muito em 20 anos, e eles não sabem que hoje em dia já não se entra assim tão facilmente para o topo. Então, a mim, apetece-me gritar-lhes bem alto:

Entre ser secretária do dentista em Lisboa e ganhar 500 euros e ser assistente administrativa na Comissão europeia em Bruxelas e ganhar 5 vezes mais, eu prefiro a segunda opção!!!

Dias 9 e 10: Já vou na minha segunda semana em Bruxelas e ainda não fiz nada no âmbito do meu estágio. Mas ainda bem porque, de facto, não tenho tempo!!! Tenho tido reuniões, entrevistas e conversas com funcionários portugueses e estrangeiros a um ritmo incrível, até pareço uma pessoa importante, mas não sou!!! Hoje foi um dia particularmente engraçado: fui ao Parlamento europeu e revi uma amiga polaca do Erasmus que já não via há quatro anos e uma ex-colega de Genebra que não vi há um ano. Entretanto, tive um encontro com a deputada Jamila Madeira que me pareceu fantástica, super interessante e dinâmica... Quando for grande, vou ser assim!!! A lição do dia veio de uma funcionária portuguesa que me disse: neste meio, quando se pensa que se vai ser feliz porque se atingiu a autonomia financeira, é quando começam os problemas. Conselhos da mesma pessoa: falar pouco e tornar-se indispensável. A reter.

Dias 7 e 8: Estou há uma semana em Bruxelas e só choveu um dia, o que não é deveras normal... Este fim-de-semana, tive direito à visita do Joaquín para aquecer a alma, já que continua a estar um frio gélido, apesar do sol. Confirmo a impressão inicial de que gosto desta cidade e do seu movimento. Percorremos os highlights, comemos gauffres e moules marinières, andámos às compras, bebemos chás anti-frio, deambulámos pelos bairros típicos e terminámos com um filme fantástico, cujo pano de fundo é Istanbul, a cidade que parece estar na origem de tantas mudanças na minha vida nos últimos meses... Um fim-de-semana cosmopolita, como há muito não tinha, a repetir o mais rapidamente possível!!!

O Joaquín tentando encontrar o seu caminho...

Bruxelas, num sábado de manhã, com sol de inverno

Para os lados do Palais royal

Grand-Place

O Manneken Pis a urinar nas nossas cabeças

Auf der anderen seite: Magnífico

Dia 6: A minha dúvida de ontem dissipou-se, pois soube esta manhã que fui pré-seleccionada para um estágio na Comissão, o que me valeu a pequena alegria da manhã. Os contactos já estão em marcha, agora resta esperar que a burocracia desta grande máquina se ponha em funcionamento. Parece que nunca nada é garantido neste meio, só quando chega a casa o papel oficial... Eu cá estou um pouco dividida hoje. Para alguns, isto é como um castelo medieval, onde todos querem entrar, mas donde ninguém pode sair. Para outros será uma instituição que permite ter uma qualidade de vida fantástica, devido aos ordenados e regalias astronómicos. Para outros é a imagem da alienação, do kafkianismo e da burocracia. Eu estou numa encruzilhada. Tenho medo de entrar e não poder mais sair, pelo status adquirido. Tenho receio de querer ser criativa e crítica e não poder. Tenho medo deste mundo do poder e dos poderosos. Mas depois conheço funcionários e gosto deles. Percebo como há pessoas inteligentes aqui, como há gente interessante, como se vão dando passos nos meandros da burocracia, como se constroem pequenas vitórias do tamanho de um escritório. Não sei que caminho escolher, se entrar, se ficar à porta, se ir bater a outra porta. É difícil crescer e tomar decisões que sabemos que irão alterar de modo profundo o rumo das nossas vidas.

O Berlaymont, o centro do poder europeu

A assistir a uma conferência com outras estagiárias

A vista do meu escritório, em dia de sol...

Dias 4 e 5: Desde ontem que ando a fazer contactos informais legais, segundo a terminologia de Carlos Coelho, que conheci no Parlamento Europeu no ano passado, lembram-se!? Tenho vindo a encontrar-me com funcionários portugueses super simpáticos e as ofertas de estágio vão caíndo...O único senão é que ainda não saíram os resultados da pré-selecção, que stress!!! Além disso, diverto-me a assisitir a conferências com outras colegas, bebo muitos cappuccinos a 89 cêntimos, preço de funcionário (!!!), descubro os cantos da casa, enfim, faço contactos. Incrivelmente, vai fazendo sol em Bruxelas, mas está muito frio. A vista do meu escritório é portanto desafogada... Bruxelas é uma cidade simpática, que vou explorando. Entretenho-me a ver os bairros onde gostaria de viver, se vier para aqui em Março. Espero que sim, porque apetece-me mesmo experimentar esta vida...

O meu super quarto

O elevador...Quero um assim, um dia...

Coisa que aqui não falta é comida, há sempre algum cocktail...

Dia 3: Desde ontem que participo num seminário de boas-vindas aos estagiários da DG COMM. A impressão com que tenho ficado das várias conferências é que os funcionários são pessoas bastante interessantes e com muitos conhecimentos, mas alienadas pela sua própria instituição. Têm espírito crítico, mas não o podem evidenciar, só mesmo off the records, como eles gostam de dizer... Enfim, mas eu continuo com vontade de entrar neste mundo...
Quanto a coisas corriqueiras. Hoje até saí mais cedo, mas está um frio incrível e chove torrencialmente e por isso cancelei o meu programa de ida às compras... Antes de mais, tenho mesmo é de comprar um guarda-chuva... O que vale é que o meu quarto é assim cosy.

Com a Vera, frente ao Berlaymont (edíficio mor da Comissão)

Tintin à la rue grecque de Bruxelles (quel cosmopolitisme)

Dias 1 e 2: Ainda não consegui organizar os meus sentimentos e sensações, mas sei que estou feliz por estar aqui. Vivo numa casa estilo art nouveau, com um daqueles elevadores de madeira e com grade de metal, que é preciso puxar manualmente... Estou no centro da cidade, que é cosmopolita, agitada, poliglota, moderna...Estive com o amigo Geoffrey a falar de bons momentos passados e planos de futuro...Estou num escritório no 32º andar de um dos edíficios da Comissão Europeia com vista deslumbrante...Estou a ter uma oportunidade única de criar contactos...Estou com a Vera, estagiária de Lisboa, e pode-se fazer piadas estúpidas em língua materna...